Dicas

Pais que não gostam dos filhos

 
Pode parecer estranho que existam pais que não gostam dos seus filhos, mas na posição dos especialistas, há motivos muito fortes que explicam essa incapacidade de dar amor, compreensão e carinho aos seus descendentes.

Segundo os entendidos, «mais grave do que não se amar um filho, é não se conseguir admitir essa realidade». O facto de não se reconhecer que não se tem capacidade de amar, faz com que muitos descendentes passem por um sofrimento atroz, sem que consigam entender o que se esconde por detrás dessa falta de sentimentos positivos.
 
Ao não admitirem que não amam os filhos, estes pais acabam por maltratá-los, abandoná-los emocionalmente e, em muitos casos, fisicamente, por desprezá-los, por criticar-lhes todas as ações e por os desaprovarem em tudo o que fazem, pelo que, «se torna muito pior a forma como se lida com os mais novos do que, se estes pais assumissem que não conseguem gostar deles».
 
Os mesmos especialistas sublinham que, «não é fácil admitir a existência de pais que não amam os filhos. Supõe-se que isso seja contra a própria natureza, mas não é. O pai ou a mãe podem ser incapazes de amar de maneira saudável. O lado positivo é que isso pode ser trabalhado e superado para o bem de todos», registam.
 
Por detrás dessa falta de amor, existem razões muito fortes que impedem um pai, uma mãe ou ambos de amarem os filhos, são elas:
 
1. Autoimagem negativa
 
O facto de estas pessoas terem uma autoimagem negativa a seu respeito faz com que desenvolvam uma má imagem também em relação aos outros, sendo os filhos os principais alvos do processo. Segundo os especialistas, existe um mecanismo projetivo de rejeição de tudo aquilo que faz parte de nós, ou seja, se eu me rejeito, acabo por fazê-lo com tudo o que tenho e que se identifica comigo, como é o caso dos filhos.
«É impossível amar alguém sem que se desenvolva um sentimento de apreciação por si mesmo. É muito mais difícil amar um filho nessas condições, já que este é uma parte dos pais em vários sentidos». Os progenitores nessa posição ainda rejeitam mais depressa os filhos que mais se lhes assemelham.
 
2. Imaturidade
 
 Também a imaturidade é uma razão muito forte pela qual muitos pais não gostam dos filhos. Na posição dos entendidos, «ser pai ou mãe implica adotar uma perspetiva de vida diferente, uma vez que, o sentido da palavra responsabilidade assume um novo significado. Ao nos tornarmos pais, passamos a ter de nos responsabilizar também pelos nossos filhos, a ter de dar resposta aos seus problemas, aos novos desafios, a termos de sair de nós para dar amor, compreensão e carinho e, naturalmente que se trata de uma tarefa exigente, para a qual nem todos estão preparados. Quando não se consegue desenvolver essa maturidade, a responsabilidade passa a ser encarada como um fator ameaçador que cria uma dependência íntima, mas indesejada. Nessas condições, é fácil desenvolver um certo ressentimento ou rejeição pela criança, sendo a mesma encarada como um obstáculo ou um fardo».
 
3. Traumas
 
«Não é fácil exercer uma paternidade saudável quando os pais  passaram por uma criação doentia. É muito comum que uma pessoa rejeite as atitudes, comportamentos e padrões com os quais foi criada e, ao mesmo tempo que acabe por repeti-los com os próprios filhos. Um dos efeitos do trauma não resolvido é exatamente esse.». Segundo os especialistas, «existem pais
que não amam os filhos devido ao seu próprio percurso e aos traumas que carregam também da sua infância. Para estes pais, os filhos fazem-lhes lembrar o que passaram, os seus traumas e momentos dolorosos e, em vez de modificarem algo, deixam-se levar por tais memórias acabando por fazer o mesmo ou ainda pior».
 
4. Extrema ansiedade em relação à morte
 
Segundo os especialistas, existem pessoas que têm um medo extremo da passagem do tempo e da morte. O facto de se tornarem pais, de uma forma ou de outra, está associado ao envelhecimento e isso gera rejeição. Assim, uma maneira de evitarem a ansiedade em relação à velhice e à morte é através da inibição dos sentimentos de amor pelos filhos. Ao se afastarem, evitam a construção de um vínculo muito próximo. Esta é uma forma de evasão, explicam.
 
5. Narcisismo
 
Contrariamente ao que possa parecer, uma pessoa narcisista não sente qualquer amor-próprio, por tal razão, são muitas as dúvidas que carrega em relação a si mesma; ao seu real valor, às suas habilidades e potencialidades. No entanto, faz de conta que nada se passa e aparenta ser uma pessoa muito segura, a ponto de se exceder e de se mostrar egóica e por fazer de conta que não existe mais alguém no mundo para além de si mesma. Com tal postura, é incapaz de gostar dos filhos porque se considera o centro do seu mundo, e não acredita que, alguma vez os filhos possam corresponder-lhe às expectativas. Estes pais duvidam dos filhos porque também não confiam em si mesmos e afastam-se precisamente para que não construam laços afetivos, acabando por desprezarem os mais novos, apesar de, na maioria dos casos, viverem juntos, mas sem qualquer vínculo emocional.
 
6. Uma infância pobre em afetos
 
Os pais que cresceram sem afeto tendem a não conseguir melhorar esse comportamento, por essa razão, mantêm uma relação de proximidade com os filhos, exigem muito em termos emocionais, mas não dão algo em troca. Não permitem a liberdade dos filhos, porque também nunca a tiveram e não aceitam que estes se afastem deles, apesar de não lhes darem amor e compreensão. Fingem uma proximidade que não sentem, só porque se querem sentir acompanhados e não permitem que os filhos saiam desse cerco fechado. Quando tal acontece, tornam-se declaradamente seus inimigos.
 
7. Os padrões de comportamento da criança
 
Muitos pais rejeitam os filhos pelo simples facto de estes se apresentarem diferentes deles. Com maior ou menor consciência disso, estes progenitores não aceitam essa distinção dos filhos e fazem de tudo para lhes mostrar a sua condenação, o que dá lugar a um ambiente “de guerra”. Em muitos casos, basta que os filhos mostrem boas habilidades intelectuais, que sejam curiosos e inteligentes para que os pais os coloquem de lado. O mesmo se passa em termos de aspeto físico; em casos em que o casal não se dá bem e que o filho é mais parecido a um dos progenitores, e também quando a criança apresenta traços de algum familiar de que se gosta menos. A personalidade da criança também pesa muito para os pais que não gostam dos filhos e que assim encontram uma razão para sentirem rejeição em relação aos seus descendentes.
 
Conhecidas as principais razões que levam a que muitos pais não gostem dos filhos, os especialistas afirmam que, o principal é que peçam ajuda, que expliquem o que se passa e que possam integrar um processo de mudança, pois só uma tomada de consciência do problema pode ajudar a revertê-lo.
 
É importante que estes pais não se sintam culpados com essa ausência de sentimentos e que procurem um apoio especializado, uma vez que, um filho sofre muito mais com esta falta de amor parental e com o abandono e rejeição quando os seus progenitores não aceitam e assumem que passaram por momentos muito difíceis na sua vida, e que são o produto dessas vivências erráticas, porque há uma tendência para se vingarem dos mais novos de todas as formas possíveis.
 
Quando estas pessoas passam por um processo de reabilitação, tornam-se bons pais, bons amigos, bons familiares e conseguem manter relações de muita qualidade onde quer que participem, é preciso é que saiam do seu mundo e que recorram a quem os pode ajudar.
 
Fátima Fernandes